Para entender os rolezinhos, é necessário saber que na última década, a economia brasileira cresceu a jato, o que fez com que o cenário social mudasse muito. Isto reforçou a ideia de que para ser “alguém”, é imprescindível consumir bens materiais, sobretudo os caros, de grife.
O fenômeno teve seu início em dezembro do ano passado, quando cerca de seis mil jovens se reuniram no Shopping Metrô Itaquera, em São Paulo. O motivo do primeiro rolê foi a proibição (que já foi vetada) de bailes de funk nas ruas da capital paulista – muitos cantores desse estilo de música o organizaram e compareceram para protestar. Todavia, a maioria dos presentes só queria se reunir para escutar funk ostentação – variante do gênero que exalta o consumo e as roupas de grife – no último volume, paquerar, tirar fotos para pôr na rede e provocar tumulto. Houve, ainda, relatos de menores fazendo arrastão nas lojas, bebendo álcool e fumando maconha dentro do local. Depois do acontecido, lojistas e consumidores disseram estar amedrontados pelo passeio em grupo. Muitos tiveram de fechar as lojas e se esconder até a molecada ir embora. Naquele dia, e nos seguintes rolês que já tiveram lugar em centenas de shoppings em todo o Brasil, a confraternização foi dispersada na marra. A polícia militar tem recorrido a balas de borracha, gâslacrimogêneo e até detenções.
Além do mais, a situação se tornou realmente grave em janeiro deste ano, quando seis shopping centers paulistas obtiveram uma liminar para impedir o acesso a certas pessoas. Colocaram seguranças nas portas, os quais barraram o acesso de jovens negros das classes sociais mais “baixas”. Isso fez com que os defensores associassem a liminar ao apartheid. Eles também acreditam que os rolezinhos estão colocando o foco na desigualdade entre classes já que a presença dos jovens nos shopping centers incomoda as classes ricas, que vão a esses lugares pela segurança, ou seja, para estar bem longe justamente dessa população de menor poder aquisitivo.
O sociólogo e cientista político,Paulo Cabral, aponta que “esses jovens da periferia contestam a ordem estabelecida pela elite” já que “ocupam um espaço que sempre foi exclusivo da classe média alta”. Ele ainda explica que, segundo a constituição, é proibido barrar a entrada de uma pessoa num lugar público, mas que “esse direito só vale para a burguesia. Ele, como muitos outros, também opina que o Brasil oferece pouco para os jovens em termos de lazer e espaços para este fin. Se a garotada não tiver nada para fazer, eles vão ao shopping – o símbolo do consumismo e do luxo que é pregado no funk. Além disso, o antropólogo Alexandre Barbosa Pereira (Unifesp) julga que “se fossem jovens de classe média, certamente não seria a polícia que seria acionada, seria criada outra solução.” Nos últimos meses, tem havido muitos encontros de estudantes universitários em grupo em espaços públicos, mas não aconteceu nada.
Por outro lado, embora haja muitos defensores, também existem muitos que são contra os passeios. Há quem diga que os jovens só querem criar baderna e que eles deveriam achar outras atividades para fazer no seu fim de semana. Você imagina ir ao shopping e deparar com milhares de adolescentes cantando funk nos corredores? Colunista da revista Veja, Rodrigo Constantino, até escreveu que os que participam dos rolezinhos são "selvagens que cospem na civilização", e "bárbaros incapazes de reconhecer a própria inferioridade".
Muitos outros não têm uma opinião tão extrema, mas é verdade que pode ser constrangedor ir fazer compras e estar no meio de uma bagunça desse tipo. Os participantes dizem que os encontros são pacíficos, mas em várias ocasiões acabaram saqueando lojas e pichando o estacionamento. Também escancara o debate de si um shopping center realmente é um espaço público ou privado.
Há numerosos rolezinhos programados para as próximas semanas, mas agora em lugar de serem uma manifestação de lazer, são protestos em contra das liminares e a violência policial.
-- Daniel Griffiths, 3/2014