sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Rolezinho


Vamos dar um rolê no shopping?  Rolezinho é um neologismo para denotar um encontro em massa agendado nas redes sociais.  Vem ganhando destaque no notíciario brasileiro devido aos supostos delitos cometidos pelos integrantes dos eventos.  A maior parte dos rolês ocorrem em shopping centers e em parques públicos na periferia das grandes cidades do país.

Para entender os rolezinhos, é necessário saber que na última década, a economia brasileira cresceu a jato, o que fez com que o cenário social mudasse muito.  Isto reforçou a ideia de que para ser “alguém”, é imprescindível consumir bens materiais, sobretudo os caros, de grife.

O fenômeno teve seu início em dezembro do ano passado, quando cerca de seis mil jovens se reuniram no Shopping Metrô Itaquera, em São Paulo.  O motivo do primeiro rolê foi a proibição (que já foi vetada) de bailes de funk nas ruas da capital paulista – muitos cantores desse estilo de música o organizaram e compareceram para protestar.  Todavia, a maioria dos presentes só queria se reunir para escutar funk ostentação – variante do gênero que exalta o consumo e as roupas de grife – no último volume, paquerar, tirar fotos para pôr na rede e provocar tumulto.  Houve, ainda, relatos de menores fazendo arrastão nas lojas, bebendo álcool e fumando maconha dentro do local.  Depois do acontecido, lojistas e consumidores disseram estar amedrontados pelo passeio em grupo.  Muitos tiveram de fechar as lojas e se esconder até a molecada ir embora.  Naquele dia, e nos seguintes rolês que já tiveram lugar em centenas de shoppings em todo o Brasil, a confraternização foi dispersada na marra.  A polícia militar tem recorrido a balas de borracha, gâslacrimogêneo e até detenções.

Além do mais, a situação se tornou realmente grave em janeiro deste ano, quando seis shopping centers paulistas obtiveram uma liminar para impedir o acesso a certas pessoas.  Colocaram seguranças nas portas, os quais barraram o acesso de jovens negros das classes sociais mais “baixas”.  Isso fez com que os defensores associassem a liminar ao apartheid.  Eles também acreditam que os rolezinhos estão colocando o foco na desigualdade entre classes já que a presença dos jovens nos shopping centers incomoda as classes ricas, que vão a esses lugares pela segurança, ou seja, para estar bem longe justamente dessa população de menor poder aquisitivo.

O sociólogo e cientista político,Paulo Cabral, aponta que “esses jovens da periferia contestam a ordem estabelecida pela elite” já que “ocupam um espaço que sempre foi exclusivo da classe média alta”.  Ele ainda explica que, segundo a constituição, é proibido barrar a entrada de uma pessoa num lugar público, mas que “esse direito só vale para a burguesia.   Ele, como muitos outros, também opina que o Brasil oferece pouco para os jovens em termos de lazer e espaços para este fin.  Se a garotada não tiver nada para fazer, eles vão ao shopping – o símbolo do consumismo e do luxo que é pregado no funk.  Além disso, o antropólogo Alexandre Barbosa Pereira (Unifesp) julga que “se fossem jovens de classe média, certamente não seria a polícia que seria acionada, seria criada outra solução.”  Nos últimos meses, tem havido muitos encontros de estudantes universitários em grupo em espaços públicos, mas não aconteceu nada.

Por outro lado, embora haja muitos defensores, também existem muitos que são contra os passeios.  Há quem diga que os jovens só querem criar baderna e que eles deveriam achar outras atividades para fazer no seu fim de semana.  Você imagina ir ao shopping e deparar com milhares de adolescentes cantando funk nos corredores?  Colunista da revista Veja, Rodrigo Constantino, até escreveu que os que participam dos rolezinhos são "selvagens que cospem na civilização", e "bárbaros incapazes de reconhecer a própria inferioridade".

Muitos outros não têm uma opinião tão extrema, mas é verdade que pode ser constrangedor ir fazer compras e estar no meio de uma bagunça desse tipo.   Os participantes dizem que os encontros são pacíficos, mas em várias ocasiões acabaram saqueando lojas e pichando o estacionamento.  Também escancara o debate de si um shopping center realmente é um espaço público ou privado. 

Há numerosos rolezinhos programados para as próximas semanas, mas agora em lugar de serem uma manifestação de lazer, são protestos em contra das liminares e a violência policial.

-- Daniel Griffiths, 3/2014

sábado, 1 de março de 2014

Um negócio de cair o queijo


Tráfico de pessoas, armas, drogas e… queijo.  Por incrível que pareça, existe no Brasil o contrabando de milhares de toneladas de queijo por ano.

    A produção artesanal de queijo tem uma história de mais de 400 anos no Brasil, sobretudo em Minas Gerais. O queijo produzido na Serra da Canastra, por exemplo, já foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). No entanto, o queijo minas artesanal de leite cru não pode ser comercializado fora do estado devido à legislação federal.  Um decreto federal de 1952 exige 60 dias de maturação, enquanto a lei estadual de 2002 estabelece apenas 21 dias.  O processo de maturação mata bactérias que podem provocar doenças em humanos.  O problema é que, se a maturação for tão longa como 60 dias, o queijo fica muito duro e o consumidor o rejeita.  Realmente, o único uso que tem o queijo tão maduro é ralado na preparação de pão de queijo.


    Para os queijos de Minas serem comercalizados fora do estado, eles têm que ser contrabandeados por “queijeiros”, atravessa-dores que compram a mercadoria nas queijarias, falsificam seus rótulos e aí a transportam ilegalmente pelas fronteiras estaduais.  Nos últimos meses, já foram presos e multados vários contrabandistas nas estradas brasileiras.  A maioria do queijo frescal clandestino é vendida no interior do estado de São Paulo e, muitas vezes, os comerciantes nem sabem que estão oferecendo um produto ilegal. O queijo minas padrão é vendido legalmente em todo o país, já que se usa leite pasteurizado na sua produção.  Entretanto, embora a pasteurização mate micro-organismos perigosos, elimina a possibilidade de maturação e, portanto, o seu gosto particular.


    Segundo o revelador documentário “O Mineiro e o Queijo”, o queijo de leite não pasteurizado pode ser consumido após uns 15 dias de maturação.  Além disso, absurdamente, é permitida a venda de queijos feitos de maneira parecida oriundos da Europa em todo o Brasil.

-- Daniel Griffiths